O Livro dos Médiuns

O Livro dos Médiuns

O LIVRO DOS MÉDIUNS

À GUISA DE APRESENTAÇÃO

 “Há muito tempo anunciada, mas com a publicação retardada por força de sua própria importância, esta obra ( O Livro dos Médiuns) aparecerá de 5 a 10 de janeiro(*), pelos Srs. Didier & Cie, livreiros-editores, Quai dês Augustins, 35 (#).. Ela constitui o complemento do Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último contém a parte filosófica.
Nesse trabalho, fruto de longa experiência e de estudos laboriosos, procuramos esclarecer todas as questões que se ligam à prática das manifestações. De acordo com os Espíritos, contém a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições em que os mesmos se podem reproduzir. Mas a seção concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção.
O Espiritismo experimental é cercado de muito mais dificuldades do que geralmente se pensa; e os escolhos aí encontrados são numerosos. Eis o que ocasiona tantas decepções aos que dele se ocupam, sem experiência e conhecimentos necessários. Nosso objetivo foi o de premunir contra esses escolhos, que nem sempre são desprovidos de inconvenientes para quem se aventure sem cautela por esse terreno novo. Não podíamos esquecer esse ponto capital: e o tratamos com o cuidado equivalente à sua importância.
Os inconvenientes quase sempre se originam da leviandade com que é tratado problema tão sério. Os Espíritos, sejam quais forem, são as almas dos que viveram; em seu meio estaremos infalivelmente, de um momento para outro; todas as manifestações espíritas, inteligentes ou não, têm, assim, por objeto, pôr-nos em contato com essas mesmas almas. Se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razão devemos respeitar o ser inteligente que sobrevive, e que constitui a verdadeira individualidade. Transformar as manifestações em brincadeira é faltar com o respeito que talvez um dia reclamemos para nós próprios, e que jamais é violado impunemente.
O primeiro momento de curiosidade causada por esses estranhos fenômenos já passou; hoje, que se lhes conhece a fonte, evitemos profana-la com brincadeiras indecorosas e esforcemo-nos por nela haurir o ensinamento adequado a nos assegurar a felicidade futura. O campo é muito vasto e o objetivo bastante importante para tomar toda a nossa atenção. Até hoje, os nossos esforços tenderam para fazer o Espiritismo entrar neste caminho sério. Se esta nova obra, tornando-o ainda melhor conhecido, puder contribuir para impedir que o desviem de seu objetivo providencial, estaremos amplamente recompensados de nossos cuidados e de nossas vigílias.
Este trabalho, não temos dúvidas a respeito, provocará críticas da parte daqueles a quem desagrada a severidade dos princípios, bem como dos que, vendo as coisas de um outro ponto de vista, já nos acusam de querermos fazer escola no Espiritismo. Se é fazer escola procurar nesta ciência um fim útil e proveitoso para a Humanidade, teríamos o direito de nos sentirmos envaidecidos com a acusação. Mas uma tal escola não necessita de outro chefe que o bom senso das massas e a sabedoria dos bons Espíritos, que a criariam independentemente de nós. Eis porque declinamos da honra de a ter fundado, sentindo-nos, ao contrário, felizes de nos colocarmos sob a sua bandeira; aspiramos apenas o modesto título de divulgador. Se um nome é necessário, inscreveremos em seu frontispício: Escola do Espiritismo Moral e Filosófico, e para ela convidaremos todos quantos têm necessidade de esperanças e de consolações.”

 Allan Kardec
Revista Espírita: ano IV, janeiro de 1861

 (*) Contrariando a previsão de Kardec, O Livro dos Médiuns só pode ser lançado a 15 de janeiro de 1861, com o significante título completo: Espiritismo experimental: O Livro dos Médiuns (ou guia dos médiuns e dos evocadores).

(#) Também disponível, naquela época, no escritório da Revista Espírita, constituía um livro de 500 páginas vendido por 3 fr. 50, em Paris, e por 4 fr. através do correio.

Fonte: http://www.userp.org.br/livro_mediuns.asp